"O que fazer pela saúde mental agora e sempre?" Este é o tema que norteia a campanha Janeiro Branco 2025, mês dedicado ao debate sobre a importância dos cuidados com a saúde mental. Tão importante quanto a saúde física, os cuidados com a saúde psicológica são fundamentais para o sucesso do tratamento de outras condições que exigem do paciente controle emocional.
No caso dos pacientes com HIV/Aids, embora o tratamento seja consolidado e altamente eficaz, a estigmatização e o preconceito históricos associados ao diagnóstico representam um fardo significativo para o paciente. Ciente dessa realidade, além dos serviços médicos, de enfermagem e farmacêuticos, o Centro de Infectologia de Juazeiro do Norte oferece atendimento psicológico como suporte essencial aos seus pacientes.
"Durante essa janela entre um atendimento médico e outro, sucessivos quadros psicológicos podem se desenvolver. Quadros de ansiedade pontual, sintomas depressivos pontuais, quadros de vulnerabilidade social, de rompimento ou de fragilização de vínculos familiares costumam acontecer nesses intervalos. Então, muitas vezes, um paciente que só vem ao médico do serviço uma ou duas vezes ao ano acaba precisando recorrer ao serviço de psicologia diversas vezes dentro desse mesmo período", conta Allan Ricarte, psicólogo do Centro.
Atualmente, pouco mais de 1.000 pacientes possuem prontuários ativos no serviço. O acompanhamento psicológico inicia-se no diagnóstico e acompanha o paciente durante toda a jornada do tratamento. "Todos os novos pacientes do serviço, aquelas pessoas que recebem o diagnóstico no cotidiano do nosso trabalho, também já passam por atendimento psicológico, devido à complexidade emocional que o diagnóstico causa de imediato, esse impacto inicial que saber do HIV causa nos sujeitos", pontua Allan.
O objetivo do atendimento psicológico é fortalecer o alicerce emocional dos pacientes, muitos dos quais ainda enfrentam preconceito e falta de aceitação, inclusive no ambiente familiar.
"Enquanto uma instituição social, como qualquer outra, a família não está isenta de reproduzir paradigmas preconceituosos e estigmas, sobretudo quando falamos em HIV/Aids. O papel da psicologia, então, nesse serviço, tanto com o usuário em si quanto com a sua rede de apoio, que na maioria das vezes é o seio familiar, é primeiramente trabalhar essa questão do estigma enquanto produto da desinformação", ressalta o psicólogo.
Em contrapartida, Allan também explica que, por estar mais próxima do indivíduo, a família pode, sim, se tornar uma importante rede de apoio que, quando aliada, pode contribuir para o sucesso e a continuidade do tratamento dos pacientes.
Com os avanços da ciência e dos tratamentos, pessoas soropositivas têm hoje uma qualidade de vida significativamente melhor. Durante o acompanhamento psicológico, um dos primeiros temas abordados é justamente essa realidade. "Hoje, a pessoa que faz o tratamento de forma correta, que faz o acompanhamento periódico, consegue trabalhar efetivamente, produzir efetivamente, ter relacionamentos sociais das mais diversas naturezas, inclusive relacionamentos afetivo-sexuais. Parte do nosso trabalho, primeiro, é desmistificar essas limitações para o próprio paciente. Às vezes, por mais conhecimento que a pessoa possua, no momento em que ela descobre o diagnóstico, para ela, a vida social dela acaba", explica.
Além do paciente, segundo Allan, é importante também levar o debate à sociedade sobre a importância de quebrar o paradigma de preconceito ainda existente contra as pessoas soropositivas. "Essa ideia precisa ser combatida o quanto possível, porque isso carrega muito dessa ideia arcaica de que o paciente que convive com o vírus do HIV não pode viver em sociedade", finaliza.
O Centro de Infectologia de Juazeiro do Norte está localizado na Rua Tabelião João Machado, s/n (antigo prédio da Sesau), e funciona das 7h30 às 17h. Até agosto de 2024, a unidade realizou mais de 4.700 atendimentos, incluindo consultas médicas, de enfermagem, psicológicas, assistência social, serviços farmacêuticos e dispensação de medicamentos.